Dizendo Adeus
Há duas semanas atrás eu recebi uma ligação que mudou a minha vida. O ar me faltou, as lágrimas rolaram, e as palavras simplesmente desapareceram. Num piscar de olhos, anos da minha vida se passaram diante de mim, abraços não dados, natais perdidos, ligaçōes nunca feitas e então me calei. Deixei meu luto seguir seu rumo, aceitei a dor e a saudade. Deixei meus sentimentos aflorarem e me permiti ser humana, ser fraca, ser vulnerável.
Passei semanas sem escrever, me parecia fútil tentar traduzir um momento tão cru e cruel da natureza humana. Precisei de tempo pra digerir a perda, aceitar a dor e finamente liberar amor e aceitação.
Por semanas, me peguei pensando nesse blog e no que eu poderia falar. Afinal, eu sempre tenho algo à dizer. Mas a morte me pegou de surpresa e a perda me calou. Sabe quando a gente sente tudo e nada ao mesmo tempo? Então.
Eu não queria que esse post fosse um post triste, deprê, mas que tipo de amiga seria eu se não dividisse com vocês quem eu realmente sou? E essa sou eu. Humana, frágil, confusa...
Então decidi fazer o que eu melhor faço; juntei os meus pedacinhos, agrupei minha coragem, fiz uma elaborada análise e tentei encontrar um propósito pra tudo isso.
O difícil é traduzir sentimentos em palavras, e é esta dificuldade que tenho neste exato momento. Escrever à respeito do que nem eu entendo, escrever à respeito do que não posso ver, não posso tocar, só posso sentir.
Todos nós já perdemos alguém, seja pela morte ou seja pela vida. E acho que todos podemos concordar que é muito difícil aceitar a perda. Seja a perda pela passagem pro outro lado ou a perda de um amor, de um amigo, de um companheiro. E em toda perda, grande ou pequena existe um bem comum, a eventual aceitação. Percebi então que seria mais fácil encontrar palavras para falar de aceitação do que da perda. Não só mais fácil como também mais produtivo.
Uma vez um professor me disse, "Tudo no que você se foca, aumenta. Seja o problema ou a solução". Quero nesse momento focar na solução, infelizmente a vida muitas vezes irá nos tirar coisas e pessoas. Cabe à você e à mim, sentir, sofrer, chorar e então finalmente levantar.
Depois de muito refletir, comecei a olhar a perda como um ciclo, talvez não um final, mas apenas uma continuação. Ciclos não acabam, apenas se transformam. E por mais difícil que seja, não podemos quebrar ou intervir o ciclo da vida.
A morte é um conceito muito difícil de ser entendido por nós humanos, não vou negar. Como racionalizar a idéia da morte? Como entender o "existir" e de repente o "não existir"?
Nós poderíamos passar o dia e a noite inteira aqui filosofando e tentando entender o porquê de tudo isso. Mas eu prefiro aceitar, o que é e o que não é mais. A saudade fica e após uma perda dificilmente seremos os mesmos, mas a mudança pode ser para melhor ou não, depende de você e depende de mim, depende da nossa atitude.
O engraçado da morte é que ela pōe a vida em perspectiva, ela clareia a nossa visão e ensina a amar mais e a viver mais intensamente. Ela ensina a valorizar quem anda do nosso lado e à respeitar a vida do próximo e a dor do próximo.
O interessante da morte é que muitas vezes ela trás sentido e nos torna mais humanos. O problema é essa nossa idéia de achar que a vida têm que ser livre desconfortos e de dor. Quando nós aceitamos que a dor, a perda, o desconforto fazem parte da vida tanto quanto o nascer, os primeiros passos, o falar, o amar; então tudo fica mais fácil de se compreender e aceitar.
Li esses dias em um texto que dizia que talvez a morte não seja um fim e sim um começo, mais ou menos como um prêmio pra quem conseguiu passar por esta vida intacto. Olhar para a morte como um presente, um prêmio, um lugar pleno e cheio de paz. Talvez a vida seja a escola, o lugar onde aprendemos a viver; e a morte seja o destino, talvez a morte seja o lugar onde colocamos em prática tudo que aprendemos em vida. Talvez a vida seja um ensaio e a morte seja o grande espetáculo.
Talvez nunca entenderemos por completo o sentido da vida, da morte e de tudo isso, mas por enquanto fico aqui tentando e aceitando a minha existência como uma mera sobrevivente dessa tão complexa e vulnerável identidade humana.
Desejo à todos nós que sofremos a perda; paz, sabedoria e paciência. Desejo que voltemos a sorrir e amar como se não houvesse amanhã.
Deixo com vocês aqui nessas linhas tudo que sou.
Um grande beijo meus amigos e até a próxima.